*Carlos Alberto da Costa Gomes
Falar sobre segurança aciona as lembranças das notícias de crimes que nos assustam ou
dos crimes nos quais parentes, amigos ou conhecidos foram vítimas. É um assunto
difícil, um daqueles “nós cegos” que a sociedade baiana terá de enfrentar e que passou a
fazer parte das campanhas políticas. Sinal claro de sua importância nos dias atuais. Isso
deveria ser bom para a sociedade.
José Honório Rodrigues, na sua obra clássica - Conciliação e Reforma no Brasil - lá em
1964, demonstra, através do estudo da questão servil (protelação da abolição da
escravatura), que durou mais de meio século, que as questões realmente importantes
para a sociedade têm sua solução adiada como trunfo para novas eleições. As propostas
de solução dos que então foram eleitos mostraram-se pífias e conciliadoras. São
exemplos: a Lei que proibia o tráfico de escravos entre províncias, a Lei do Sexagenário
e a Lei do Ventre Livre. Palavras bonitas sem outros efeitos práticos que fazer de conta
que se resolvia, empurrar com a barriga e, o principal, angariar votos. Assim fixaram as
raízes de nossa prática política.
Para a população em geral, não é possível conviver com um problema sem que se
busque uma solução. Qualquer situação difícil que surja na vida de uma família não
pode ser ignorada, nem se fazer de conta que desapareceu, tem de ser resolvida. O vale
transporte roubado, os parcos trocados que são tomados por assaltantes, ou o carro, o
pagamento, o assassinato não podem ser empurrados com a barriga. Uma mãe ou pai
não pode fingir que existe comida na mesa quando não há ou que a doença de um filho
sumiu enquanto a criança passa mal. Também não se aceita a imprevidência como
explicação. Os pais não podem alegar desconhecer a possibilidade de seu filho ser
atropelado por estar no meio de uma rua movimentada ou que poderá se perder em uma
praia lotada. Não seriam considerados humanos no mundo real dos que andam a pé, de
ônibus ou de carro, onde as soluções têm de ser buscadas.
Coincidindo com o que qualquer cidadão já pensou ou apontou como caminho para
diminuir a insegurança em nossa Bahia, estudos sérios no Brasil e no exterior indicaram
a necessidade de: centros de tratamento de drogados, de escolas melhores, de
policiamento comunitário, requalificação urbana, integração das ações das Secretarias
de Assistência Social, de Saúde e Segurança, aumento do efetivo policial, aporte de
tecnologia, estabelecimento de mecanismos de controle interno rigoroso, etc. Nenhuma
autoridade pode negar desconhecimento. Muitas sugestões foram apresentadas, entre
elas as do Observatório de Segurança Pública da Bahia.
Por três anos optou-se por ignorar o problema, mesmo diante das imagens apresentadas
em rede nacional de televisão, se negou a existência na cidade de territórios dominados
pelo tráfico de drogas. Compraram-se viaturas que tinham de ser compradas, fizeram
concursos que tinham de ser realizados e alardeou-se isso como solução. Porque não
foram empregados, uma montanha de recursos foi devolvida à Secretaria Nacional de
Segurança Pública (algo como quarenta milhões).
Além de publicar parcialmente as estatísticas, de fato, nada de sério foi feito. Criou-se o
ambiente para prosperar o corporativismo danoso resultante da falta de esperança dos
que são condenados a trabalhar sem objetivo. Falta pouco para se fazer a sociedade
refém de anseios justos de funcionários frustrados. A alienação da realidade é sintoma
clássico. A rede de proteção à mulher foi ignorada em uma entrevista em que
autoridades da área afirmam que resolvem tudo em 48 horas. Faltou dizer aonde.
A propaganda eleitoral governamental antecipada, que por si só já é um crime, agora
está “resolvendo” a questão da segurança pública. Espertalhões que ignoravam o
problema da insegurança, fazendo de conta que não existia, agora, de olho nas próximas
eleições, tentam fazer o que deveriam estar fazendo desde quando ganharam a última.
Justamente por estar sendo feito atabalhoadamente talvez não atinja o objetivo. Será que
não poderia ter sido feito antes? Foi alienação?Imprevidência? Incompetência? Ou é
propaganda?
Coordenador do Observatório de Segurança Pública da Bahia.
carlos.gomes@unifacs.br
Matéria publicada em 01/02/2010, no jornal Atarde.
http://www.observatorioseguranca.org/entrevistas.htm
Falar sobre segurança aciona as lembranças das notícias de crimes que nos assustam ou
dos crimes nos quais parentes, amigos ou conhecidos foram vítimas. É um assunto
difícil, um daqueles “nós cegos” que a sociedade baiana terá de enfrentar e que passou a
fazer parte das campanhas políticas. Sinal claro de sua importância nos dias atuais. Isso
deveria ser bom para a sociedade.
José Honório Rodrigues, na sua obra clássica - Conciliação e Reforma no Brasil - lá em
1964, demonstra, através do estudo da questão servil (protelação da abolição da
escravatura), que durou mais de meio século, que as questões realmente importantes
para a sociedade têm sua solução adiada como trunfo para novas eleições. As propostas
de solução dos que então foram eleitos mostraram-se pífias e conciliadoras. São
exemplos: a Lei que proibia o tráfico de escravos entre províncias, a Lei do Sexagenário
e a Lei do Ventre Livre. Palavras bonitas sem outros efeitos práticos que fazer de conta
que se resolvia, empurrar com a barriga e, o principal, angariar votos. Assim fixaram as
raízes de nossa prática política.
Para a população em geral, não é possível conviver com um problema sem que se
busque uma solução. Qualquer situação difícil que surja na vida de uma família não
pode ser ignorada, nem se fazer de conta que desapareceu, tem de ser resolvida. O vale
transporte roubado, os parcos trocados que são tomados por assaltantes, ou o carro, o
pagamento, o assassinato não podem ser empurrados com a barriga. Uma mãe ou pai
não pode fingir que existe comida na mesa quando não há ou que a doença de um filho
sumiu enquanto a criança passa mal. Também não se aceita a imprevidência como
explicação. Os pais não podem alegar desconhecer a possibilidade de seu filho ser
atropelado por estar no meio de uma rua movimentada ou que poderá se perder em uma
praia lotada. Não seriam considerados humanos no mundo real dos que andam a pé, de
ônibus ou de carro, onde as soluções têm de ser buscadas.
Coincidindo com o que qualquer cidadão já pensou ou apontou como caminho para
diminuir a insegurança em nossa Bahia, estudos sérios no Brasil e no exterior indicaram
a necessidade de: centros de tratamento de drogados, de escolas melhores, de
policiamento comunitário, requalificação urbana, integração das ações das Secretarias
de Assistência Social, de Saúde e Segurança, aumento do efetivo policial, aporte de
tecnologia, estabelecimento de mecanismos de controle interno rigoroso, etc. Nenhuma
autoridade pode negar desconhecimento. Muitas sugestões foram apresentadas, entre
elas as do Observatório de Segurança Pública da Bahia.
Por três anos optou-se por ignorar o problema, mesmo diante das imagens apresentadas
em rede nacional de televisão, se negou a existência na cidade de territórios dominados
pelo tráfico de drogas. Compraram-se viaturas que tinham de ser compradas, fizeram
concursos que tinham de ser realizados e alardeou-se isso como solução. Porque não
foram empregados, uma montanha de recursos foi devolvida à Secretaria Nacional de
Segurança Pública (algo como quarenta milhões).
Além de publicar parcialmente as estatísticas, de fato, nada de sério foi feito. Criou-se o
ambiente para prosperar o corporativismo danoso resultante da falta de esperança dos
que são condenados a trabalhar sem objetivo. Falta pouco para se fazer a sociedade
refém de anseios justos de funcionários frustrados. A alienação da realidade é sintoma
clássico. A rede de proteção à mulher foi ignorada em uma entrevista em que
autoridades da área afirmam que resolvem tudo em 48 horas. Faltou dizer aonde.
A propaganda eleitoral governamental antecipada, que por si só já é um crime, agora
está “resolvendo” a questão da segurança pública. Espertalhões que ignoravam o
problema da insegurança, fazendo de conta que não existia, agora, de olho nas próximas
eleições, tentam fazer o que deveriam estar fazendo desde quando ganharam a última.
Justamente por estar sendo feito atabalhoadamente talvez não atinja o objetivo. Será que
não poderia ter sido feito antes? Foi alienação?Imprevidência? Incompetência? Ou é
propaganda?
Coordenador do Observatório de Segurança Pública da Bahia.
carlos.gomes@unifacs.br
Matéria publicada em 01/02/2010, no jornal Atarde.
http://www.observatorioseguranca.org/entrevistas.htm
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